Páginas

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Estado não é quintal de nenhuma Igreja

É com imenso constrangimento que vejo o desenrolar da campanha eleitoral. Inicialmente, pensei que Dilma reunisse, senão experiência eleitoral, atributos profissionais, consistência intelectual e coerência para representar brasileiras e brasileiros no cargo máximo da Nação. Entretanto, o que tenho visto é uma campanha retrógrada, que nos remete à Idade Média.

Igreja e Estado se separaram há tempos. É importante que se respeite igualmente os cidadãos, sejam eles religiosos ou não, crédulos ou incrédulos. Fazer do Estado um quintal religioso é temeroso, especialmente quando consideramos todas as lutas para que o Estado fosse, finalmente, laico. Na composição de Dilma, ateus e os homossexuais, só para citar dois grupos mais visíveis, ficam de fora. Entretanto, são igualmente cidadãos.

Avançamos na discussão sobre o aborto, visto como um problema real de saúde pública da mulher. Esperava que Dilma fosse coerente. Marina Silva, ela, sim, religiosa, teve muito mais coerência e sensibilidade. Altamente democrática, propôs um plebiscito sobre temas controversos, abrindo possibilidade para o diálogo, no lugar de impor suas crenças. Talvez aí resida a melhor modernidade de Marina e sua mais importante contibuição à democracia do País.

As posturas de Dilma, e não o falatório a seu respeito, não a disseminação de calúnias, me fizeram repensar. Não sou o tipo de pessoa que acha que, para gostar de um candidato, precisamos ver o demônio no outro. Assim, respeito o legado do PSDB e aprecio José Serra, mesmo votando em Marina. No segundo turno, meu voto seria de Dilma, talvez pela comodidade de deixar tudo como está. No entanto, seria uma violência contra a democracia e contra a laicidade do Estado colocar no poder uma pessoa que muda conforme sopram os ventos eleitorais. Dilma perdeu meu voto e o de minha família não pelo que dizem dela, mas pelo que suas atitudes dizem de si mesma. É constrangedor voltar à Idade Média.

Cássia Janeiro

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Flor de Caminho - Cássia Janeiro


 
Há de nascer uma flor de lótus
No meio
Do caminho.



Há de nascer uma flor de lótus
Permanente
Para que a gente suporte,
Para que a gente se importe
Com o que está à nossa frente.

Há de nascer uma flor de lótus
Permanente
Para que a gente suporte,
Para que a gente se importe
Com o que está escondido,
Longe do nosso umbigo,
No mesmo cordão umbilical.


Há de nascer uma flor de lótus
Permanente
Para que a gente suporte,
Para que a gente se importe
E não ache mais normal
Ver criança no sinal,
Sinalizando a lembrança do que
Não teve,
De quem não chegou a ser.

Há de nascer uma flor de lótus
Permanente
Para que a gente suporte,
Para que a gente se importe e
Lembre:



O caminho do meio
Não é
O meio do caminho.